terça-feira, 5 de abril de 2011

Geração à rasca ou mal habituada?

Até agora evitei incluir no blog referências de índole política, religiosa ou futebolística (que também é religiosa). Não porque não tenha as minhas próprias convicções (e tenho-as!) mas porque queria evitar ferir suscetibilidades e porque respeito quem pense de forma diferente. Este blog é um relato da nossa aventura, não um local para expressar a minha opinião.

Mas as circunstâncias atuais a que o nosso país chegou obrigam-me a esquecer por um momento este princípio. E assim sendo não resisti a publicar este desabafo (de um autor desconhecido). Não defende ideologias políticas. E acho que Portugal teria muito mais a ganhar se mais pessoas pensassem assim...

A geração dos meus pais não foi uma geração à rasca. Foi uma geração com capacidade para se desenrascar. Numa terriola do Minho as condições de vida não eram as melhores. Mas o meu pai António não ficou de braços cruzados à espera do Estado ou de quem quer que fosse para se desenrascar.

Veio para Lisboa, aos 14 anos, onde um seu irmão, um pouco mais velho, o Artur, já se encontrava.

Mais tarde veio o Joaquim, o irmão mais novo. Apenas sabendo tratar da terra e do pastoreio, perdidos na grande e desconhecida Lisboa, lançaram-se à vida.

Porque recusaram ser uma geração à rasca fizeram uma coisa muito simples.

Foram trabalhar.


Não havia condições para fazerem o que sabiam e gostavam.

Não ficaram à espera.

Foram taberneiros.

Foram carvoeiros.

Fizeram milhares de bolas de carvão e serviram milhares de copos de vinho ao balcão.

Foram simples empregados de tasca.

Mas pouparam.

E quando surgiu a oportunidade estabeleceram-se como comerciantes no ramo.

Cada um à sua maneira foram-se desenrascando.

Porque sempre assumiram as suas vidas pelas suas próprias mãos.

Porque sempre acreditaram neles próprios.


E nós, eu e os meus primos, nunca passámos por necessidades básicas.

Nós, eu e os meus primos, sempre tivémos a possibilidade de acesso ao ensino e à formação como ferramentas para o futuro.

Uns aproveitaram melhor, outros nem tanto, mas todos tiveram as condições que necessitaram.

E é este o exemplo de vida que, ainda hoje, com 60 anos, me norteia e me conduz.


Salvaguardadas as diferenças dos tempos mantenho este espírito. Não preciso das ajudas do Estado.

Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.

Não preciso das ajudas da família que também têm as suas próprias vidas.

Não preciso das ajudas dos vizinhos e amigos.

Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.


Preciso de mim.

Só de mim.

E, por isso, não sou, nunca fui, de qualquer geração à rasca.

Porque me desenrasco.

Porque sempre me desenrasquei.


O mal desta auto-intitulada geração à rasca é a incapacidade que revelam.

Habituados, mal habituados, a terem tudo de mão beijada.

Habituados, mal habituados, a não precisarem de lutar por nada porque tudo lhes foi sendo oferecido. Habituados, mal habituados, a pensarem que lhes bastaria um canudo de um qualquer curso dito superior para terem garantida a eterna e fácil prosperidade.

Sentem-se desiludidos.


E a culpa desta desilusão é dos "papás" que os convenceram que a vida é um mar de rosas.

Mas não é.

É altura de aprenderem a ser humildes.

É altura de fazerem opções.

Podem ser "encanudados" de qualquer curso mas não encontram emprego "digno".

Podem ser "encanudados" de qualquer curso mas não conseguem ganhar o dinheiro que possa sustentar, de imediato, a vida que os acostumaram a pensar ser facilmente conseguida.

Experimentem dar tempo ao tempo, e entretanto, deitem a mão a qualquer coisa.

Mexam-se.

Trabalhem.

Ganhem dinheiro.


Na loja do Shopping. Porque não?

Aaaahhh porque é Doutor...

Doutor em loja de Shopping não dá status social.

Pois não.

Mas dá algum dinheiro.

E logo chegará o tempo em que irão encontrar o tal e ambicionado emprego "digno".

O tal que dá status.


O meu pai e tios fizeram bolas de carvão e venderam copos de vinho. Eu, que sou Informático, System Engineer, em alturas de aperto, vendi bolos, calças de ganga, trabalhei em cafés, etc.

E garanto-vos que sou hoje muito melhor e mais reconhecido socialmente do que se sempre tivesse tido a papinha toda feita.


Geração à rasca?

Vão trabalhar que isso passa.


À rasca, mesmo à rasca, também já tenho estado.

Mas vou à casa de banho e passa-me.

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