segunda-feira, 25 de abril de 2011

A historia do registo da Maria Luisa

Avisado dos habituais problemas com que se depara um estrangeiro para registo de nascimento, decidi atempadamente verificar as condições. Na câmara municipal disseram'me que não haveria qualquer problema, poderia escolher os nomes à vontade, de acordo com o que a Lei Portuguesa permite. Fiquei descansado.

Hoje lá fui (tem de ser feito até três dias uteis depois do nascimento). Indiquei o nome que tínhamos escolhido e começamos a tratar da papelada. O funcionário olhou para o computador, voltou a olhar para o nome e sai-se com esta: «Vamos ter de registar a criança de acordo com as regras holandesas» (isto é, todos os sobrenomes da mãe e todos os sobrenomes do pai). Não era isso que queríamos, então para que é que olhou para a Lei Portuguesa? Porque, segundo ele, a criança não tem nacionalidade (pudera, acabou de nascer) e por isso as regras a seguir são as do país onde nasce. Apesar de a única nacionalidade a que teria direito ser a Portuguesa - e eles saberem disso. Enfim, burocracias. Mais trabalho para nós, que depois temos de mudar o nome, e para eles, que têm de mudar os registos.

Prosseguimos... até me dizerem que não estávamos casados de acordo com os registos holandeses (ou seja, nunca mudamos o estado civil aqui). Erro nosso. A consequência era agora que não podia registar a Maria Luísa também em meu nome - seria órfã de pai - até entregar o registo (internacional) de casamento. Perguntei o que aconteceria se não fosse de facto casado, poderia ser na mesma o pai? «Sim», responderam-me, «mas o problema é que nos indicou que era casado»... Ora bolas, que fui eu dizer?...

«Continuemos, vamos registar a criança só em nome da mãe» (faz-me lembrar uma canção fantástica agora na moda). Disseram-me que depois seria imediatamente corrigido e sem custos, assim que entregasse a certidão de casamento. Não fiquei convencido, mas vamos dar o benefício da dúvida.



sábado, 23 de abril de 2011

E agora as coisas boas

Correu tudo bem, é certo, e talvez por isso só temos que dizer bem. E para ser justos temos de fazê-lo.

Desde logo pelo acompanhamento que foi dado ao longo da gravidez. Consultas com um médico rondaram a dezena. Foi-nos mesmo dito que a fasquia para atendimento era muito baixa, ou seja, marcar uma consulta em caso de necessidade seria fácil, ao contrário do normal.

Tivemos oportunidade de visitar as salas de parto numa sessão organizada pelo hospital. As condições não são más, mas o hospital terá novas instalações muito em breve (a Maria Luísa foi das últimas a nascer no hospital antigo, o que também é de registar).

As águas rebentaram no Domingo à noite. Fomos para o hospital. Sabíamos que não era como nos filmes e por isso fomos com calma. Chegámos, fez-se a consulta e o trabalho de parto não tinha começado. Na Holanda espera-se até 48 horas depois de rebentar as águas e só então se induz o parto. Em Portugal espera-se apenas 12 horas. Há um risco de infecção, mas na Holanda são adeptos de partos naturais, evitar tudo o que seja medicação.

As 48 horas passaram, algumas idas ao hospital para controlo, e nada. O parto seria induzido e ficou marcado para a manhã seguinte. Vinte de Abril, seria este o grande dia!

De manhãzinha lá fomos. Encaminharam-nos para um quarto particular, onde iria depois decorrer o parto. Apresentaram-nos a parteira e a enfermeira. Muito muito simpáticas. E atenciosas. Como é normal em Portugal, pediu-se a epidural. Aqui não é comum e tentam sempre evitar, dizendo para esperar até ao último momento. Às vezes já é tarde... A maioria defende (acredita) que o parto deve ser sentido e que com estas coisas modernas não se tem a experiência do parto. Nós não fomos em conversas. E bendita medicina! A dilatação estava completa as 15h, mas as contracções não eram suficientes. Só às 20h30 se deu o grande momento. Indescritível. Seguiram-se os preparos habituais.

Durante todo este processo, médico nem vê-lo. Mas o que é facto é que ele (ela) estava lá. A diferença é que na Holanda se dá muito mais autonomia aos técnicos. E para um parto que decorre dentro da normalidade que diferença é que faz (para além dos custos muito menores)?

Na ausência de indicações em contrário, quatro horas depois do parto, mãe e recém-nascido podem ir para casa, onde os espera uma enfermeira (kraamzorgster) que irá ajudar a cuidar do bebé e da mãe na primeira semana. Desta forma substitui-se o tratamento hospitalar por um em casa, a custos muito menores para o sistema de saúde e com um nível de conforto incomparável. Além disso, tendo uma pessoa dedicada, sete horas por dia, dá um conforto e ajuda que não tem preço. É o ponto que mais destaco. No nosso caso houve lugar a internamento pelo facto de as águas terem rebentado. Infelizmente os quartos são partilhados (no novo hospital já se fica no mesmo quarto onde se tem o bebé). Chegados a casa lá estava a enfermeira à nossa espera.

Um destaque mais uma vez para o pessoal extraordinário, competente e muito simpático que nos acompanhou e de quem guardaremos para sempre uma lembrança pelo carinho que nos deram. Obrigado Relinde, Femke e Marie.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Maria Luísa!

domingo, 10 de abril de 2011

Senhorios - a saga

Consultei advogados, todos nos davam razão. Com um relatório que dizia não haver qualquer problema na casa, era evidente que ao senhorio competia devolver-nos o depósito por inteiro.

Mas não. Com o dinheiro do seu lado e, imagino, advogados por sua conta, o senhorio não se demoveu e não pretendia ceder. Teríamos mesmo de levar o caso avante, o que provavelmente nos custaria mais do que o depósito...

Resolvi engolir um sapo e ceder a fazer as reparações indevidas. E assim lá conseguimos reaver o dinheiro. Ganhou ele, o vigário. Ficamos ao menos com o dinheiro, como tinha de ser.

sábado, 9 de abril de 2011

Partos na Holanda

Aqui na Holanda, considerada um modelo de desnvolvimento e frequentemente classificada no topo dos rankings no que aos cuidados de saúde diz respeito, cerca de 25% a 30% dos partos ainda se realizam em casa (!). E, pior que isso, o próprio sistema promove esta prática, fazendo passar a ideia de ser uma escolha melhor e que partos no Hospital (blasfémia!) só em casos medicamente justificados (de facto as companhias de seguro seguem esta regra). Argumentando contra os cépticos, dizem que em caso de complicações, rapidamente as grávidas serão transferidas para o hospital.

Acontece que o mundo real não é bem assim: complicações acontecem e ir para o hospital de urgência a meio do trabalho de parto não se afigura uma experiência nada simpática (tivemos alguns relatos assustadores). Mais, significa que a utilização de analgésicos está fora de questão. Pior que tudo, o parto é feito por uma "midwife", que, apesar de ter formação e experiência no acompanhamento de partos, não tem formação médica. Ou seja, estará em princípio pouco habilitada a avaliar potenciais riscos. E com isto não se brinca.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Toxoplasmose

No sistema de saúde Português (e, imagino, na maioria dos sistemas europeus), o teste de imunidade à toxoplasmose faz parte da praxe. Trata-se de uma infecção que em geral não acarreta riscos, mas que na gravidez pode causar problemas.

Ora acontece que este teste (tal como muitos outros) não se efectua naquele que é considerado o melhor sistema de saúde do mundo - o da Holanda. A razão, dada pelos médicos, é de que não vale a pena efectuar o teste porque quase toda a população é imune (!), ou seja, já tiveram a doença. E de facto o seguinte artigo refere números na ordem dos 80%.

Interessante informação; em Portugal a maior parte não é imune.

E pergunta-se, porquê estes números? Evidentemente se se pergunta, então não conhece a realidade deste país. Um país onde os hábitos de higiene roçam o ridículo, onde esfregar uma maçã nas calças é forma de limpeza suficiente, onde o lixo é recolhido de quinze em quinze dias, onde nos cafés e restaurantes os copos sujos são simplesmente mergulhados numa bacia com água e algum detergente, onde a ASAE teria muito trabalho... Infecções como a Toxoplasmose têm aqui muito potencial.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Geração à rasca ou mal habituada?

Até agora evitei incluir no blog referências de índole política, religiosa ou futebolística (que também é religiosa). Não porque não tenha as minhas próprias convicções (e tenho-as!) mas porque queria evitar ferir suscetibilidades e porque respeito quem pense de forma diferente. Este blog é um relato da nossa aventura, não um local para expressar a minha opinião.

Mas as circunstâncias atuais a que o nosso país chegou obrigam-me a esquecer por um momento este princípio. E assim sendo não resisti a publicar este desabafo (de um autor desconhecido). Não defende ideologias políticas. E acho que Portugal teria muito mais a ganhar se mais pessoas pensassem assim...

A geração dos meus pais não foi uma geração à rasca. Foi uma geração com capacidade para se desenrascar. Numa terriola do Minho as condições de vida não eram as melhores. Mas o meu pai António não ficou de braços cruzados à espera do Estado ou de quem quer que fosse para se desenrascar.

Veio para Lisboa, aos 14 anos, onde um seu irmão, um pouco mais velho, o Artur, já se encontrava.

Mais tarde veio o Joaquim, o irmão mais novo. Apenas sabendo tratar da terra e do pastoreio, perdidos na grande e desconhecida Lisboa, lançaram-se à vida.

Porque recusaram ser uma geração à rasca fizeram uma coisa muito simples.

Foram trabalhar.


Não havia condições para fazerem o que sabiam e gostavam.

Não ficaram à espera.

Foram taberneiros.

Foram carvoeiros.

Fizeram milhares de bolas de carvão e serviram milhares de copos de vinho ao balcão.

Foram simples empregados de tasca.

Mas pouparam.

E quando surgiu a oportunidade estabeleceram-se como comerciantes no ramo.

Cada um à sua maneira foram-se desenrascando.

Porque sempre assumiram as suas vidas pelas suas próprias mãos.

Porque sempre acreditaram neles próprios.


E nós, eu e os meus primos, nunca passámos por necessidades básicas.

Nós, eu e os meus primos, sempre tivémos a possibilidade de acesso ao ensino e à formação como ferramentas para o futuro.

Uns aproveitaram melhor, outros nem tanto, mas todos tiveram as condições que necessitaram.

E é este o exemplo de vida que, ainda hoje, com 60 anos, me norteia e me conduz.


Salvaguardadas as diferenças dos tempos mantenho este espírito. Não preciso das ajudas do Estado.

Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.

Não preciso das ajudas da família que também têm as suas próprias vidas.

Não preciso das ajudas dos vizinhos e amigos.

Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.


Preciso de mim.

Só de mim.

E, por isso, não sou, nunca fui, de qualquer geração à rasca.

Porque me desenrasco.

Porque sempre me desenrasquei.


O mal desta auto-intitulada geração à rasca é a incapacidade que revelam.

Habituados, mal habituados, a terem tudo de mão beijada.

Habituados, mal habituados, a não precisarem de lutar por nada porque tudo lhes foi sendo oferecido. Habituados, mal habituados, a pensarem que lhes bastaria um canudo de um qualquer curso dito superior para terem garantida a eterna e fácil prosperidade.

Sentem-se desiludidos.


E a culpa desta desilusão é dos "papás" que os convenceram que a vida é um mar de rosas.

Mas não é.

É altura de aprenderem a ser humildes.

É altura de fazerem opções.

Podem ser "encanudados" de qualquer curso mas não encontram emprego "digno".

Podem ser "encanudados" de qualquer curso mas não conseguem ganhar o dinheiro que possa sustentar, de imediato, a vida que os acostumaram a pensar ser facilmente conseguida.

Experimentem dar tempo ao tempo, e entretanto, deitem a mão a qualquer coisa.

Mexam-se.

Trabalhem.

Ganhem dinheiro.


Na loja do Shopping. Porque não?

Aaaahhh porque é Doutor...

Doutor em loja de Shopping não dá status social.

Pois não.

Mas dá algum dinheiro.

E logo chegará o tempo em que irão encontrar o tal e ambicionado emprego "digno".

O tal que dá status.


O meu pai e tios fizeram bolas de carvão e venderam copos de vinho. Eu, que sou Informático, System Engineer, em alturas de aperto, vendi bolos, calças de ganga, trabalhei em cafés, etc.

E garanto-vos que sou hoje muito melhor e mais reconhecido socialmente do que se sempre tivesse tido a papinha toda feita.


Geração à rasca?

Vão trabalhar que isso passa.


À rasca, mesmo à rasca, também já tenho estado.

Mas vou à casa de banho e passa-me.